J.BORGES, ou José Francisco Borges. É dos mais importantes artistas populares do Brasil. Nascido em Bezerros, interior de Pernambuco, em 1935, já foi vendedor de jogo do bicho, adepto da quiromancia, pedreiro, pintor. Foi vendedor de cordel, ou folheteiro como também se usa chamar, até que a partir de 1964, passou a dedicar-se integralmente ( e como toda a sua genialidade!) à atividade de xilogravador e poeta popular. Participou de exposições na França, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba. Recebeu vários prêmios importantes, entre eles o Prêmio Cultura promovido pela Unesco e a Medalha de Honra ao Mérito, do Ministério da Cultura.
Até os 12 anos de idade, o garoto J.Borges ainda não sabia ler, mas já sabia decor o texto do Romance do Pavão Misterioso – folheto de cordel dos mais populares da época. E dos tempos de vendedor de cordel é que vem o conselho: “O vendedor de cordel tem que completar as histórias com piadas e fazer comentários enquanto lê o poema. Precisa também fazer as trancas, superando a narrativa nas horas certas, e deixar as histórias no ar..”
Em 1972, o escritor paraibano Ariano Suassuna ficou encantado com a riqueza das imagens que Borges produzia para as capas de cordel, fez questão de conhecê-lo, e apontou o artista como um dos mais inventivos criadores da arte popular nordestina. A amizade dos dois e a projeção de J.Borges não pararam nunca mais.
Marcelo, de passagem por Pernambuco, visitou a oficina de Borges em Bezerros, onde ele continua na ativa, trabalhando com alguns dos filhos – ao todo são 18, de três casamentos… Até o mais jovem, o Bocaro de 10 anos de idade, já exibe o gosto pela arte e a marca do talento do pai.
No muro, o desenho original de uma de suas xilogravuras mais conhecidas: O MONSTRO DO SERTÃO.
E outros trabalhos de J. Borges que correm o mundo, tão populares e internacionais.
E um dos seus cordeis mais vendidos:
do rosto da poesia
eu tirei um santo véu
e pedi licença a ela
pra tirar o chapéu
e escrever A CHEGADA
DA PROSTITUTA NO CÉU
sabemos que a prostituta
é também um ser humano
que por uma iludição
fraqueza ou desengano
o seu viver volúvel
sempre abraçado ao engano
aconteceu que uma delas
morreu em certo dia
e pela vida levada,
o povo sempre dizia
ela foi para o inferno
pelos atos que fazia
(…segue)